Fui jovem numa época em que a leitura era algo prazeroso. Digo mais: era função indispensável. Jovens de minha época sonhavam em serem escritores, pois tinham na leitura o exemplo de um mundo possível. Antes de escrever, todos éramos leitores, e a existência desse prazer justificava e reforçava a sobrevivência do sonho.
Meu professor de literatura no cursinho, no interior de São Paulo, era poucos anos mais velho que eu, e acabamos amigos. Conversávamos sobre autores, artigos, histórias. Ele me contava como era gostoso quando, em viagem à capital, comprava o Pasquim nas bancas e o lia de cabo a rabo no ônibus da volta. A viagem encurtava. As idéias alongavam. O prazer transbordava. A leitura era complemento obrigatório em nossas vidas...
Nos tempos modernos a leitura nos alcança por meios rápidos e generosos. Podemos ler o que quisermos, os conteúdos estão à distância de um toque. Mas a modernidade nos apresenta um mundo medíocre. A vontade do saber foi corrompida pela inutilidade da fofoca.
Sinto dizê-lo, sem mágoa ou rancor: nós, os leitores, somos poucos. Pior do que isso: nos tornaram desprezíveis. Não somos negócio, não interessamos aos investidores. Somos descartáveis.
Enquanto isso, milhões de seres alienados passam horas de suas vidas a disparar textos pela rede confundindo Mário Quintana com Paulo Coelho, trocando Veríssimo por Jabor, e imaginando que Fernando Pessoa deva ser um blogueiro do interior gaúcho... não lêem, não pensam, apenas banalizam e pasteurizam um conhecimento superficial.
Resta saber a quem interessa a ignorância, tema a que não falta patrocínio e dinheiro, muito dinheiro...
quarta-feira, 26 de agosto de 2009
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