Eu não sabia, mas antes do câncer eu já estava doente. Duas doenças me limitaram mais do que a quimioterapia e a cirurgia. Os nomes delas são “Não posso” e “Não consigo”.
Quando eu estava atacada no vírus
“Não posso” eu dizia e agia assim:
- Não posso tirar foto de lado…
Porque meu nariz e queixo são pontudos;
- Não posso usar saia curta…
Porque meus joelhos são muito grossos;
Não posso sorrir muito em foto…
Porque meu bigode chinês aparece;
Não posso andar de avião…
Porque tenho medo.
Não posso ter plantas em casa…
Porque não sei cuidar.
E assim eu permanecia… doente de mim mesma.
Quando eu estava atacada do vírus
“Não consigo” eu dizia e agia assim:
Não consigo ficar bem nas fotos…
Porque sempre arregalo os olhos;
- Não consigo pousar para fotos…
Porque tenho vergonha;
Não consigo sorrir para valer…
Porque meus dentes não são bonitos;
Não consigo ler livros…
Porque dá sono;
Não consigo fazer caridade regularmente… Porque não tenho tempo.
E assim eu seguia, impondo-me limites…
Quantas vezes reclamei da oleosidade do meu cabelo, do quanto ele era fino e pesado. A escova não durava nada… Fiz até permanente para dar volume… fiquei parecendo um poodle.
Hoje, depois de encarar a doença, cheguei à conclusão de que o câncer mata muita coisa realmente… entre elas… Preguiça, vergonha, solidão, hipocrisia, futilidades, medos, culpas, limitações, radicalismos, carência, dependências, auto-crítica, intolerância, baixa autoestima e muito mais.
terça-feira, 16 de junho de 2009
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