terça-feira, 26 de maio de 2009

Repetição - Alexandre Pelegi

Foi num 10 de maio, em 1933, que cristalizou-se de forma cruel a perseguição nazista aos intelectuais. Numa época em que os livros cumpriam função essencial na disseminação do conhecimento, os escritores findaram como as grandes vítimas. Em toda a Alemanha montanhas de livros se acumulavam nas praças, em enormes fogueiras, cercados por estudantes fanáticos. Foi esta a maneira encontrada por Hitler para limpar do país tudo o que não rezasse segundo os padrões impostos pelo regime nazista. Nomes como Albert Einstein, Stefan Zweig, Thomas Mann e Sigmund Freud, para ficar nos mais conhecidos, foram algumas das proeminências literárias alemãs perseguidas.

O terror só é percebido por todos quando vira história. No momento em que acontece, a perplexidade cede lugar ao medo e ao conformismo, quando não ao ódio visceral do qual muitos se utilizam para justificá-lo. Poucos reagem. Foi assim na Alemanha da época: a opinião pública e a intelectualidade ofereceram pouca resistência à queima de livros, e até mesmo as editoras, ao invés da crítica, optaram pelo insidioso caminho do oportunismo.

Um século antes, na mesma Alemanha, Heinrich Heine, um poeta romântico, sofria uma atroz perseguição por seu estilo irônico e libertário. Seus livros foram banidos pela censura da época, e já naquele tempo ele escreveu uma frase que se revelaria profética: "Aqueles que queimam livros, acabam cedo ou tarde por queimar homens".

Um século depois, entre os livros incinerados pelos nazistas na Praça da Ópera de Berlim estavam as obras do poeta Heine. E depois dos livros, como ele previra, seguiram-se milhões de judeus, ciganos, homossexuais e comunistas...

Numa música escrita para o público infantil Chico Buarque relembra: “Não sou eu quem repete essa história, é a história que adora uma repetição”.

Por este motivo que é sempre prudente contar histórias dos anos de chumbo para os que hoje vivem e respiram ares de liberdade. Para que saibam que o que temos hoje não é o que sempre tivemos. Nem na política, menos ainda dentre os políticos...

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