sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

O nome do jogo - Alessandro Loiola

Imagine que você tem uma empresa – de telemarketing, por exemplo. O sujeito do RH acaba de lhe enviar um novo funcionário, o Marcão. Marcão é um cara gente boa, amigo de todo mundo, mas ele não conhece o jogo. Quer trabalhar, ganhar dinheiro, tem até boa formação, mas não conhece o jogo.
Então com toda santa paciência do mundo você se senta para explicar:
- Marcão, é o seguinte: você irá fazer 10 ligações por dia. Por vivência e experiência, sabemos que de cada 10 ligações, 1 cliente fecha com nossa companhia. Muito bem. A cada cliente que fechar um contrato, você irá preencher esta etiqueta com os dados de identificação do camarada. Número do contrato, telefone, endereço, etc. Ok até aqui?
Marcão balança afirmativamente a cabeça.
- No final do dia, você irá pegar as etiquetas preenchidas e depositar nessa caixa.
Você pega a caixa e a coloca delicadamente sobre a mesa. Parece uma miniatura de urna para depositar votos, um cofre trapezóide de madeira clara com uns 10cm de altura, uma fenda em cima, uma pequena dobradiça arás e um fecho com cadeado na frente.
- Bacana, chefe, tem até meu nome! – os olhos do Marcão ameaçam marejar de ternura enquanto ele segura a pequenina urna como um filhote delicado.
- Eu sei Marcão.  Eu sei. Foco agora, Marcão. Foco. – você puxa a urna de volta para o seu lado da mesa. – No final do expediente, você irá depositar aqui os cadastros que preencheu. Irá fazer isso todo dia. E na sexta-feira vai trazer sua urna aqui, pra gente abrir e contar as etiquetas. Tranquilo?
- Moleza.
- Beleza, Marcão! Então mãos à obra!
- É isso aí, chefia!
Chega a sexta-feira e Marcão vem com sua urna. Existe uma certa expectativa no ar. Ele esfrega as mãos enquanto você pega a chave, abre o cadeado e começa a retirar as etiquetas de cadastro.
- Marcão, meu filho.
- Hum.
- Você deveria fazer pelo menos 10 ligações por dia. De cada 10 ligações, 1 cliente. Fazendo isso 5 dias por semana, deveriam ter pelo menos 5 etiquetas de cadastro aqui. Correto?
- Hum.
- Quantas tem, Marcão?
- Duas, chefe.
- Duas.
- Mas veja bem…
- Marcão – você interrompe -, dê uma boa examinada essa urna. Sabe por que ela é tão pequena?
- Não.
- Pra que “veja bem” não caiba dentro dela.
- Mas chefe, o lance foi que…
- … E você tá vendo essa fenda aqui em cima? – você mostra a fenda onde as etiquetas são depositadas. – Sabe por que ela é tão fina e estreita?
- Sei lá…
- Ela foi feita assim para que desculpas também não caibam na caixa. Sabe o que cabe aqui na sua urna, Marcão? Números. E os números são o segredo do jogo, eles dizem tudo. Se você trouxer 5 etiquetas em uma semana, vou saber que trabalhou corretamente. Se trouxer 10, vou entender que trabalhou além do limite e é um sujeito de destaque. E se trouxer 50, vai virar chefe de equipe. Você pode até conseguir a vaga pelo QI (Quem Indica), mas são os números que irão lhe manter aqui. “Números” é o nome do jogo.
Por muitos séculos vivemos sob o empirismo de Aristóteles, mas aí veio o Renascimento e ressuscitaram Pitágoras. Tudo é pitagorismo agora. Tudo são números. Até – e especialmente – o seu peso.
O número exato de cromossomos em suas células programou seu corpo para crescer uma determinada altura, e dentro desta altura você deveria ter um determinado peso – o peso ideal.
Consumindo uma quantidade de calorias proporcional ao seu peso ideal, o corpo automaticamente irá se adaptar a essa nova realidade e em alguns meses você terá uma nova silhueta. É assim que a máquina humana opera.
Números não aceitam desculpas. Se você passou por um nutricionista e ingressou em um programa para reduzir seu peso, acha que está fazendo tudo certo mas após 30 dias não observou qualquer mudança significativa na balança, acorde!
Algo está errado com a sua abordagem. Não fique dizendo para seus botões que você teve disciplina e fez tudo certo (“a verdade é que eu tenho facilidade para engordar e dificuldade para emagrecer…”).
Pelamordetodosossantos. Não seja o Marcão, não se deixe enganar nem tampouco engane a si mesmo. Números não mentem. Ouça os números. Compreenda-os e siga-os.

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