quinta-feira, 13 de agosto de 2009

A importância do talento - Alexandre Pelegi

Li numa crônica de Luis Fernando Verissimo que "não há nada mais emocionante do que o talento". Dizia ele: "não precisa ser o de um mestre ou de um tenor. Pode ser o de um camelô, ou de uma menina negra que desafia todas as fatalidades, a da gravidade e a da sua própria origem, e salta mais alto e com mais graça do que todo o mundo". Mas o escritor observava que o talento brasileiro comove também pelo desperdício – "tanta gente boa, tanta criatividade e discernimento, e tão pouco disso passa da palavra para a política, da poesia para o poder".

Cansei-me das vezes em que senti o contraste gritante entre a indigência criativa dos homens que fazem política e a criatividade espantosa de brasileiros nos mais diversos setores da vida. De um lado, uma profusão de riqueza sendo desperdiçada por gente sem nenhum caráter; de outro, uma multidão de anônimos produzindo as mais incríveis lições de criatividade imaginativa em meio a uma pobreza absurda.

A pergunta que não cala é a mesma que nos fazemos diuturnamente: por que não temos na política a mesma garra e criatividade que observamos no cidadão comum?

Houve tempos em que a principal motivação da política era de natureza coletiva: muita gente lutava e sonhava em prol de uma vida melhor para milhões. Hoje o incentivo é vergonhosamente seletivo: escolhe-se a política porque é onde se pode fugir do futuro destinado aos mortais comuns, onde se pode vencer na vida sem fazer força...

Esta é a visão comum e predominante, e que há tempos assaltou o comando dos partidos políticos brasileiros. Como são eles que definem quem será político, eis a tragédia anunciada: se o jogo é viciado, impossível haver jogadores diferentes.

Não imagino talento na malandragem, nem na picaretagem. O que distingue o talento não é como você faz alguma coisa, mas se o que faz proporciona uma vida melhor para seus semelhantes. Por isso que gente talentosa foge da política. Até o dia em que a política descobrir que sem talento não há salvação...

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