terça-feira, 26 de maio de 2009

Plano B - Alexandre Pelegi

O sistema está fora do ar... a frase é um eufemismo para expressar a inexistência de um plano B. Eu prefiro acreditar em algo mais radical: ela define a rendição dos humanos à ditadura da tecnologia. Dizem que a expressão 'Plano B' vem do jargão militar, criada para designar uma alternativa a um plano definido. Se tudo der errado, fazemos de outro jeito...

Um velho amigo, quando se referia à possibilidade de um projeto dar com os burros n’água, costumava dizer que ao planejar qualquer tarefa era sempre prudente "colocar três espetos no fogo". Em caso de um espeto passar do ponto, haveria sempre a certeza de que restariam ainda dois sobressalentes. O pior que poderia acontecer era o churrasco atrasar...

Eu, que trabalho de madrugada, encara esse tipo de problema continuamente. Internet fora do ar, impressora quebrada, queda de energia... na maioria dos casos há sempre a possibilidade do improviso, do quebra-galho, do jeitinho. Para quem tem memória e vivência, basta lembrar como se fazia antes.

Para nós, da geração pré-tecnológica, sempre há um jeito para tudo. Nós aprendemos a fazer... fazendo. A usar lápis e borracha em lugar de tela e teclado; sola de sapato no lugar de carros e metrôs; bola de gude ou de meia para brincar na ausência de videogames e seriados de TV a cabo. E a gente se divertiu e aprendeu um bocado...

Eu costumo definir a nova geração como a "turma sem plano B". Se o celular descarrega, fica incomunicável. Se a internet não entra, cai em depressão por não poder receber emails, nem acessar o Orkut. Se o videogame quebra, se posta alquebrado diante da TV...

Alguma coisa está fora de ordem. A tecnologia, ao invés de libertar, escraviza. Ao contrário de unir, separa. No lugar de resolver, complica. Mas nós, os mais velhos, somos em grande parte responsáveis: certas escolhas tecnológicas excluem outras, e nós, por exemplo, preferimos o carro ao transporte público, e agora não temos como voltar atrás...

O caminho mais sensato é almejar um progresso com limites, e condicionar os prazeres da vida a custos mínimos. Que a "turma sem plano B" descubra esta saída, e nos liberte a todos do jugo do consumismo...

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