Sexo pago é traição? Martha Medeiros

Um dia eu estava saindo do prédio de uma amiga quando a moça que trabalha lá como faxineira me chamou:
- A senhora tem um minutinho?
Eu não tinha, mas não dava para sair correndo, ela parecia angustiada. Foi então que ela me veio com a seguinte questão:
-Meu namorado me traiu com uma prostituta. O que a senhora acha que eu devo fazer?
Essa moça já havia me dito que gostava do que eu escrevia, mas nunca imaginei que me considerasse uma espécie de oráculo. Que sinuca. Respondi o que, imagino, qualquer mulher responderia:
-Em primeiro lugar, cuide da sua saúde. É preciso saber se ele usou camisinha.
Minha resposta passou a léguas do gol. Não era o que ela queria ouvir. Não estava nem aí para camisinha. A dúvida era outra:
-Transar com prostituta é traição? Devo perdoar?
Tive vontade de responder:
-Minha querida, não sei. Alguns homens têm esse hábito: faz parte de uma cultura secular, que permite ao macho satisfazer-se com qualquer fêmea sem deixar que isso interfira nos seus sentimentos, enquanto que a maioria de nós tem mais dificuldade em dissociar amor e sexo, e a gente acaba sofrendo. Mas há quem não sofra. Existem "amélias" que aceitam, que acham que é apenas uma necessidade fisiológica dos rapazes e que não compromete a relação - desde que eles sejam discretos e não tornem isso público, coisa que o mané do seu namorado não soube fazer. Outras acreditam que qualquer contato físico com uma segunda mulher é traição, sim, não importa se é prostituta, balconista, empresária. Há uma quebra de confiança, a chamada infidelidade,duríssima de engolir. E há quem não só faça vista grossa para as aventuras do namorado como promova as suas próprias: também transa "por fora" para se divertir. Em qual desses perfis você se enquadra?

Óbvio que num único minutinho, em uma portaria de prédio, eu não conseguiria desenvolver um tratado sobre a sexualidade humana, portanto, achei mais honesto reduzir minha resposta à primeira frase:
-Minha querida, não sei.

Sei apenas o que serve pra mim, mas talvez não sirva pra ela. Visitar sites eróticos e assistir a filmes pornôs é uma fantasia íntima, considero absolutamente normal, mas uma transa é uma transa e tudo o que isso envolve. Uma prostituta não é uma boneca inflável, não é um brinquedinho, um passatempo: é uma mulher. Se houve envolvimento físico, não importa se pago ou não, é uma infidelidade. A não ser que o casal tenha firmado um pacto de não-exclusividade que permita que cada um faça o que bem entender da sua vida, com consentimento do parceiro, o que, claramente, não era o caso da moça e seu namorado.

Enfim, é um assunto pessoal de cada um. Mas continuar perpetuando a idéia de que com prostituta "não vale" é uma hipocrisia e um desrespeito com elas e conosco. Pode não abalar relação nenhuma, mas também pode ter um custo emocional mais alto do que a quantia que se pretendia pagar.