terça-feira, 9 de dezembro de 2008

De biquíni no shopping - Martha Medeiros

Fim de ano. Você tirou de circulação as camisetas de quatro anos atrás, doou todas as saias com comprimento duvidoso e o que sobrou no seu guarda-roupa? Nada. Você está sem um trapo para vestir. A solução, amiga, é esquecer a crise anunciada e ir às compras.

Tem gente que acha um programão: tempo livre + saldo no banco = shopping center. Matemática elementar. Eu, nesse aspecto, remo contra a maré: odeio comprar roupa. Se pudesse, materializava tudo o que me agrada nas revistas com um estalar de dedos. Não que eu não goste de roupa nova: sou mulher como você. O problema é experimentar.

Você se apaixona por um vestido na vitrine e resolve provar. Se você estiver de botas, jeans e dois pulôveres (eu moro em Porto Alegre), mais um coque que levou 20 minutos para ficar pronto, esqueça. O vestido pode até parecer um Valentino: não vai compensar ficar isolada numa solitária de um metro quadrado, se descabelando para conseguir fechar o zíper sozinha. O espelho sempre fica perto demais. A luz é exagerada: ao sair de casa, você não tinha essa celulite toda. A etiqueta do vestido está atrapalhando. Mas você não pode tirá-la enquanto não disser as palavras mágicas que a vendedora anseia ouvir:
- Vou levar.
Você no vai levar. Custa R$ 970,00. E ao recolocar suas roupas, surpresa: elas envelheceram 20 anos. Você devia estar dopada quando saiu de casa com esses muáfulos.
Mais trágico que isso? Tem. Experimentar biquíni. Sei que você não quer falar sobre isso, mas é preciso, estamos em plena época de suplício, o verão está batendo à porta. Aposto dez contra um que você passará o réveillon no Rio ou em alguma outra praia do Brasil. Vai ter que comprar pelo menos um biquíni novo. Unzinho só. Não dá para escapar.

Então, ao trabalho: coloque um sorriso no rosto e finja que é a coisa mais normal do mundo ficar nua dentro de um provador minúsculo forrado de espelhos, mostrando você de frente, de costas, de lado, sem nenhum recurso de Photohop ao alcance. E com uma vendedora ansiosa atrás da cortina perguntando a cada dez segundos:
- Serviu? Posso dar uma olhadinha?

Abstraia. Faz de conta que você mora em Estocolmo e não "falar" português.
Escolheu o biquíni? Agora é torcer para que a parte de cima sirva e a parte debaixo também, o que é praticamente um milagre. Eu abençôo todas as lojas que vendem as partes do biquíni de forma avulsa, permitindo que a gente misture estampas e troque os tamanhos. P em cima, G em baixo. Acertei? Claro que não. Bem se vê que me faltam alguns bons mililitros de silicone.

Só tem um jeito. Em vez de irem às compras, faça as compras irem até você. Impossível que você não tenha uma amiga sacoleira. Acione-a! Diga por telefone tudo o que deseja e não fique em casa para esperá-la. Ela deixará a sacola e voltará no outro dia para buscar. Assim você terá a noite todinha para experimentar tudo com calma, no aconchego do seu quarto e com a cumplicidade daquele espelho amigo que lhe deixa dois quilos mais magra.

Você não tem uma amiga sacoleira? Aqui se faz, aqui se paga.

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